Leituras do meu baú- (1)
A vida também se faz de (re)leituras. Do meu baú de memórias repesquei, há dias, " O Banqueiro Anarquista" de Fernando Pessoa. Vale sempre a pena ler. É pequenino e lê-se numa penada...Para aguçar o apetite a quem ainda não leu, aqui fica um "aperitivo"
É verdade: disseram-me há dias que V. em tempos foi anarquista...
- Fui, não! fui e sou. Não mudei a esse respeito. Sou anarquista.
- Essa é boa! V. anarquista! Em que é que V. é anarquista?... Só se V. dá à palavra qualquer sentido diferente...
- Do vulgar? Não, não dou. Emprego a palavra no sentido vulgar.
- Quer V. dizer, então, que é anarquista exactamente no mesmo sentido em que são anarquistas esses tipos das organizações operárias? Então entre V. e esses tipos da bomba e dos sindicatos não há diferença nenhuma?
- Diferença, diferença, há... Evidentemente que há diferença. Mas não é a que V. julga. V. duvida talvez que as minhas teorias sociais sejam iguais às deles?...
- Ah, já percebo! V., quanto às teorias, é anarquista; quanto à prática...
- Quanto à prática sou tão anarquista como quanto às teorias. E quanto à prática sou mais, sou muito mais, anarquista que esses tipos que V. citou. Toda a minha vida o mostra.
- Hein?!
- Toda a minha vida o mostra, filho. V. é que nunca deu a esta cousas uma atenção lúcida. Por isso lhe parece que estou dizendo uma asneira, ou então estou brincando consigo.
- Ó homem, eu não percebo nada!...