Zita Seabra- ponto final...parágrafo?
Pese embora considerar que comparar Mónica com Zita me faz sempre recordar a regra elementar que o meu professor primário me ensinou (“ nunca se pode multiplicar laranjas por bananas”), achei interessante o texto que o Arnaldo Gonçalves introduziu aqui em baixo- e gostei das suas notas pessoais sobre o assunto.
Eu não faço comparações, por uma simples razão: conheci Zita em criança ( chamemo-nos assim) e só conheci (muito vagamente...) Mónica, no início dos anos 80, quando ambos tínhamos atingido a idade madura.
Obviamente que reconheço a coragem de Zita – e longe de mim criticar as pessoas que ao longo da vida vão mudando a sua postura ideológica. Mas também reconheço a coragem de Mónica ...talvez mais prazeirosa e irreverente , mas que á época também tinha os seus custos!
Só que no caso de Zita, encontro apenas um senão. Quando uma pessoa dedicou os melhores anos da sua vida à defesa de determinados princípios e causas, não é normal que anos mais tarde, quando as cãs lhe conferem maior respeitabilidade e reverência, venha “renegar” o passado através de um livro que mais parece um acto de contricção. Quando isso acontece é porque há alguma motivação. Seja económica ou de busca de uma notoriedade perdida.
Sem conseguir resistir à tentação de entrar em modelos comparativos ( não entre personagens, mas entre produtos enquanto reveladores das personalidades de quem os utiliza ou produz) o livro de Zita Seabra faz-me lembrar o de Carolina Salagado. Parece-me mais um “ajuste de contas”, do que uma reflexão séria e "desinteressada"sobre o PCP.
Tanto quanto sei, Zita Seabra não foi obrigada a entrar para o Partido Comunista ( houve mesmo alguma resistência na sua admissão) , nem impedida de sair quando entendesse fazê-lo. Talvez o tenha feito demasiado tarde e esteja arrependida por isso. Talvez só agora se tenha apercebido da dimensão da sua escolha de adolescente e dos custos que uma permanência tão prolongada no Partido Comunista lhe acarretaram. Confere-lhe essa mágoa o direito ( ou será antes um ónus?) de vir publicamente “lavar roupa suja”?
As pessoas enobrecem-se mais pelo silêncio, do que pela palavra. Pela simples razão de que o silêncio todos o sabemos usar, mas as palavras são como armas... devem ser coadas pela razão - e não jorrar em vómitos de emoções - , para evitar que se tornem armas de arremesso com efeito “boomerang”.
São estes pequenos pormenores que distinguem, por exemplo, Zita do meu bom amigo João Amaral que, embora bastante descontente com o PCP, teve a “CORAGEM” de manter o silêncio até à morte...
Os cânones que regeram a sua vida fizeram dele uma pessoa admirada em todos os quadrantes políticos, incluindo figuras destacadas do CDS.
Por isso me perdoarás, meu caro Arnaldo Gonçalves, mas não alinho contigo quando falas na “conversão” de Zita ( e dos comunistas em geral). As ideologias aceitam-se e renegam-se, não são ( felizmente...) conversíveis. Mantenho esta posição, apesar de reconhecer que a única ideologia que hoje parece existir no mundo ocidental é a da adoração aos princípios do “sacrossanto” mercado.
Rezam outros cânones, que Nossa Senhora terá anunciado aos “pastorinhos” a conversão da Rússia. Terá Zita querido precisamente simbolizar a revelação de Fátima, ao pretender ser baptizada? Talvez... mas cá para mim continuo a pensar que o estatuto que melhor se adequa a Zita Seabra é o de “arrependida”. Com a carga jurídica que a palavra comporta, como é óbvio, mas não só....