sexta-feira, 20 de abril de 2007

Cho Seung-Hui e a banalidade do mal

Os Estados Unidos estão tomados de horror com as declarações visionadas de Cho Seung-Hui, o homicida que matou, a sangue frio 32 estudantes da Virgínia Tech. A NBC teve que tomar uma decisão difícil entre divulgar as imagens, tendo em conta o mister de informar o público, e não as divulgar por respeito à dor das famílias e à memória dos assassinados. Em democracia, muitas das decisões são entre finalidades irreconciliáveis e este é um dos casos.
Tremendo o testemunho do coreano, pelo ódio destilado, pela paranóia, pela confusão dos planos. "Vocês acossaram-me e não me deixaram outra escolha. Foram vocês que decidiram assim. Agora têm as mãos no sangue que nunca podereis lavar" disse. A acrescer ao video, 43 fotografias e um testemunho longo.
O balanço sociológico, psiquiátrico e social deste evento levará algum tempo a fazer. A comunidade que o sofreu e muita gente nos Estados Unidos está a procurar tirar conclusões. O pior é com ânsia de perceber criar bodes-espiatórios e culpabilizar este e aquele. Em democracia temos sempre uma segurança relativa [ainda ontem ensinava aos meus alunos expondo o pensamento de Kenneth Waltz] e não podemos almejar o óptimo, que só existe num estado vigiado e policial. Isso significaria prescindir das nossas liberdades essenciais.
Depois o mal existe, é praticado com a apatia das pessoas vulgares. Arendt descreveu em vários livros "a banalidade do mal" que leva as pessoas a desinteressarem-se da sorte dos outros quando estas sofrem. Como a criminalidade também existe. Não creio que a ameaça de repetição deste evento fosse dimiuível com a proibição da venda de armas. O proibicionismo incentiva muitas vezes a prática da conduta que visa interditar. A história está cheia desses exemplos [já sei que os patós habituais lá falarão no lobby das armas nos Estados Unidos, mas já não vale a pena explicar que isso tem uma razão histórica expressa na Constituição de 1787]. Pode-se recrudesceder as cautelas mas dificilmente se pode previnir o mal maior.
Isto poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo. Aconteceu nos Estados Unidos, ontem em Tóquio com uma seita que ninguém tinha ouvido falar. Amanhã?.....