Democracy for all? No thanks!
O grande problema da actual Administração americana, foi ter pensado que a Democracia era exportável e que o mundo seria melhor se todos os países vivessem em Democracia. Por isso tem, ao longo dos últimos anos, semeado guerras em vários pontos do globo, com o mesmo espírito dos Cruzados.
Há um triplo erro na maneira de ver o Mundo por parte dos americanos ( não apenas da actual Administração, mas também de outras que a precederam). Por um lado, acreditam que os modelos políticos são exportáveis; por outro parecem ter uma fé inabalável na hegemonia de pensamento e regime político como características de distinção positiva da globalização; finalmente esquecem que o equilíbrio mundial só será possível se houver diversidade.
Poder-se-ia acrescentar a tudo isto a lacuna Cultural dos americanos. Não concordo, por uma razão simples: essa falha é responsável pelo triplo erro. Pelo menos desde a Civilização Grega se sabe que a exportação de modelos políticos e ideológicos esbarra em questões civilizacionais; também se sabe, pela experiência adquirida com os Descobrimentos, que a globalização assenta essencialmente em modelos económicos, não sendo perceptíveis reduções de desequilíbrios entre colonizadores e colonizados. Antes pelo contrário... embora se possa sempre dizer que foi por culpa do humanismo, que os portugueses puseram nessa causa, que a experiência falhou ( mas não vou entrar por aí...). Finalmente está por provar que a queda do muro de Berlim tenha tornado o mundo mais seguro, equilibrado e equitativo. Pode no entanto afirmar-se que o mundo ficou mais perigoso desde que os EUA embarcaram na aventura expedicionária do Iraque .
Chegado a este ponto, pergunto-me se é possível aliciar outros povos a seguir modelos democráticos quando o “exportador” mina diariamente a sua própria credibilidade, com práticas intra-muros, que condena fora das suas fronteiras. Como se já não bastassem os regimes excepcionais de “tratamento” para os presos de Guantanamo, ou as imagens das atrocidades cometidas por alguns militares americanos nas prisões iraquianas, sabe-se agora que os prisioneiros que os EUA disseram ter-se suicidado, foram “executados”. E que a partir dessa data ( Junho de 2006) se começaram a suceder as “confissões” pelo cometimento de vários crimes. Não me espantará se um destes dias viermos a saber que seis anos depois de detidos nas condições que conhecemos, terão cedido ao cansaço e desataram a língua.
Ficar-se-á então a saber que as confissões destes homens apenas ocorreram, porque Bush precisava de preencher em tons de rosa o capítulo que lhe caberá nos compêndios de História, com uma versão do Capuchinho Vermelho adaptada ao século XXI.
Perguntar-me-ão: mas então e o terrorismo não existe? Claro que sim, como o comprovam as recentes ocorrências na Argélia e em Marrocos, que ficam a duas braçadas da Europa. E isso atemoriza-me, como é óbvio, mas mais uma vez não posso deixar de dizer que foi o aventureirismo de um homem que merecia ser o protagonista de um monumento à estupidez, que colocou a Europa ( que tudo fez para afastar a guerra das suas fronteiras) em sinal de alerta.
Como europeu, não posso por isso estar grato aos americanos. É que o Plano Marshall já foi há muito tempo, caramba! Agora ( e desculpem-me o recurso a uma frase publicitária) “Perfeito, perfeito, perfeito era ...” os americanos terem erradicado o terrorismo em vez de o acirrar como fizeram com os sucessivos erros que a soberba os levou a cometer por esse mundo fora.