quinta-feira, 19 de abril de 2007

Eleições francesas: quem vai à 2ª volta?

A três dias das eleições francesas, com as sondagens a apontarem para mais de 40% de indecisos, arrisco-me a fazer um prognóstico. Contra todas as expectativas, admito como provável que Sarkozy e Le Pen sejam os candidatos melhor posicionados a passar à segunda volta.
As razões para esta minha previsão catastrofista ( que espero não se venha a confirmar) assentam na análise à campanha eleitoral dos candidatos.
Ségolène Royal – A sua campanha foi desastrosa. Sem ideias inovadoras e verdadeiramente estimulantes, que pudessem atrair alguma esquerda menos moderada, Ségolène verá fugir para candidatos de terceiro e quarto plano, votos que lhe seriam úteis. Afinal quem vai votar numa candidata que simboliza na perfeição o deserto de ideias da “terceira via”? Por outro lado, o apoio do PSF à sua candidata foi muito discreto e até o marido, François Hollande, líder do PSF, veio manifestar a sua descrença quanto à possibilidade de uma passagem à segunda volta. Quando se é tão “genuíno”, que se pode esperar de eleitores já de si preconceituosos quanto à possibilidade de ser uma mulher a gerir os destinos da França? Além do mais, Ségolène não congregará os votos no “feminino” já que as quatro candidatas mulheres são todas de esquerda.

François Bayrou- Foi uma espécie de fiel da balança entre Sarkozy e Ségolène durante a campanha, mas o efeito surpresa da sua candidatura tem-se vindo a atenuar ao longo da campanha. Colou-se a algumas ideias gratas aos ecologistas , capitalizou alguns pontos pela sua visão europeísta ( é o candidato mais pró- Europa), deu algumas “bicadas” no eleitorado socialista, mas depois de um início prometedor, o centrista da UDF parece ter perdido fulgor. A imagem de que é um candidato fora das “lógicas” do Poder poderá render-lhe também alguns votos, principalmente nos eleitores indecisos.
Muitos eleitores jovens também parecem ter aderido a Bayrou Resta saber é se serão suficientes para disputar a segunda volta...

Le Pen – A surpresa das presidenciais de 2002 tem, em minha opinião, possibilidade de repetir a “gracinha”. Porque trouxe alguma coisa de novo à campanha? Não! Porque amoleceu o seu discurso xenófobo? Não! Então que possibilidades de sucesso poderá ter Le Pen, de ir à segunda volta? Muitas...
Em primeiro lugar porque soube capitalizar o descontentamento popular gerado pelos desacatos com os imigrantes. Em segundo, porque tal como aconteceu nas últimas presidenciais, muitos dos inquiridos nas sondagens não têm coragem de dizer que vão votar Le Pen., o que significa que uma boa percentagem dos votos dos indecisos significam “vou votar Le Pen”. Em terceiro lugar porque, exceptuando Sarkozy, nenhum candidato lhe disputa o espaço. Por último, porque há uma visível rejeição dos franceses a emigrantes magrebinos, africanos e árabes.
Assim – porque Sarkozy será obviamente o candidato mais votado nesta primeira volta- receio bem que tenha Le Pen por companhia na segunda. O que, a acontecer, significa que os franceses, no próximo dia 6 de Maio, vão ser confrontados, em ter de escolher entre um “caceteiro” e um “fascista”, unidos por um sentimento anti-europeu que parece estar a render votos. Se assim for, adivinho dias difíceis para a Europa, mas não só.
Para a semana voltarei ao assunto, mas até lá mantenho alguma esperança de que Bayrou, ou Royal ainda possam chegar à segunda volta.