quinta-feira, 19 de abril de 2007

Eleições francesas

Muito útil e esclarecedor o post do Carlos Oliveira sobre as eleições francesas. Tenho para mim que o voto de domingo se irá desenhar pelo "mal menor". Pelo que vi pela CNN e BBC e ainda diariamente no Le Monde e no Le Figaro, creio que Segoyane Royal pode ser designada como a grande perdedora destas eleições. Não faço o criticismo do Carlos quanto às ideias da Terceira Via [que ele caustica] porque não creio que ela se pareça com Blair. Sou suspeito pois gosto bastante dele pelas ideias, pela frescura que aportou a uma visão de uma esquerda moderna, partidária da economia de mercado e não do abraço paternalista do Estado. A fórmula está esgotada e com o achatamento da mensagem política no centro já nada traz de frescura. E assistimos à situação penosa de ele teimar [aliás como fez Soares] em não querer abandonar o palco.
Royal irá perder porque nada diz de importante. Como diz o Silvain é uma chick que achou que lhe bastaria mostrar um ar de executiva de fashion para ganhar a confiança dos franceses. Não sei quando irá para a frente o debate dela com Sarkozy na TV5 mas deverá ter pedido. Ninguém vota num candidato que não diz nada.
Não creio, no entanto, nos predicados de Le Pen para passar à segunda volta. A mensagem está esgotada e o anti-integração que pesponta no discurso dele já foi tratado por outros candidatos com outra educação e moderação. É um velho racista xenófobo que retrata um filme gaullista de grandeza da França que não tem qualquer hipótese.
Bayou é, na verdade, um candidato fora do sistema partidário francês, que não encontra enquadramento nem na tradição gauchiste, nem nationaliste. Acheio-o aqueles comentadores já repassados que são convidados pelo TV5 para os debates e que se repetem em chavões e lugares-comuns.
Resta Sarkozy. Gostei da forma como ele agarra destemido alguns dos problemas da sociedade francesa: o acomodismo ao Estado, a complacência com a marginalidade, a balda, a falta de sentido republicano de responsabilidade. Podem-lhe chamar anti-imigrantes, racista, xenófobo o que quiserem mas a França [e aliás a Europa] não pode continuar a ser a Misericórdia de quem passando por dificuldades, espera que a sociedade lhe resolva todos os problemas sem mexer um dedo. Vivendo à sombra dos subsídios, do ensino e saúde gratuita, sem se dispor a cumprir o seu naco da responsabilidade social. Não gostei - contudo - da forma como se relaciona com certos interesses económicos, obscuros da sociedade francesa e que tecem a trama das lealdades ilegítimas. Essa de assumir o compromisso de após a saída de Chirac o proteger e evitar que seja perseguido pela justiça francesa é indigno de um republicano e mostra bem, por exemplo, a nebulosa cinzenta dos políticos [que vem aliás do tempo da vaca sagrada Mitterand].
A erosão [de Royal e Sarkozy] nas últimas sondagens? Acho pouco significativa.Este fenómeno tem sido normal, por exemplo nas eleições legislativas portuguesas. Não sou especialista em sistemas eleitorais mas provavelmente pode ser explicado pelo esforço dos candidatos em segunda linha de se tornarem mais "visíveis" da comunicação social e portanto pressionarem a memória imediata dos eleitores. Sugiro nesse ponto o sempre bem informado blog do politólogo Pedro Magalhães, o Margem de Erro, aqui.
Tudo balanceado, domingo se fosse francês votava Sarkozy.