segunda-feira, 16 de abril de 2007

Ventos que sopram do Leste

Quando caiu o muro de Berlim e o império soviético se esboroou , vítima das suas contradições, as beatas entraram em transe, organizaram vigílias e, com espírito ecuménico ,pediram aos párocos que organizassem romagens a Fátima para agradecer à Virgem o fim do comunismo e a conversão da Rússia.
Cerca de 20 anos depois ter-se-ão acabado os Gulags, mas a Rússia está longe de ser um exemplo para os democratas. Putin não admite críticas ao seu Governo e por isso manda prender quem manifeste a sua oposição nas ruas. No sábado, nem Kasparov escapou a 10 horas de detenção. Ontem, em Sampetersburgo, mais uma centena de manifestantes foi parar aos calabouços.
Depois da “lufada de ar fresco” trazida por Gorbatchev, com a "Perestroika”, a Rússia parece apostada em revitalizar os regimes de mão dura.
O aumento da instabilidade interna, as perseguições aos seus opositores, o desaparecimento envolto em muita névoa de figuras da cena política russa, ( algumas gravitando em torno do poder, e outras que se lhe opunham) e as alianças com milionários “fastfood” como Abramovich, são avisos preocupantes, a que acresce a incapacidade de Putin em resolver os problemas externos – de que a Tchetchenia é o exemplo mais visível.
O mais intrigante, porém, é o facto de o antigo agente da KGB emitir, de quando em vez, sinais velados de ameaças ao Ocidente, como que avisando que está pronto a restaurar o tempo da “guerra fria”. Quais serão os seus intuitos, a um ano de eleições presidenciais a que não se pode candidatar novamente? Vai escolher um “delfim”, ou alterar a Constituição de molde a poder candidatar-se novamente?
Não faltará muito para o sabermos, mas confesso que tenho algum receio em relação ao futuro das relações entre a Rússia, a União Europeia e os Estados Unidos, até porque em alguns países que gravitaram na órbita de Moscovo durante a “guerra fria” e hoje integram a UE, há um recrudescer de insatisfação e manifestações, cada vez menos veladas, de um certo saudosismo do passado.
O mais curioso, porém, é que por razões que um dia destes tentarei explicar, estou convencido que o futuro dessas relações passará pelos resultados eleitorais em França.