Deixem-se de peras postiças...
Diz Rui Ramos no Público:
(...) Em Identificação de Um País (1986), José Mattoso explicou como esta pluralidade estava inscrita no código genético de Portugal. Pouca gente, pelos vistos, percebeu a lição. O que a modernidade fez em Portugal foi dar dimensão política a velhas fronteiras culturais. É significativo que, tendo a sociedade portuguesa mudado tanto nos últimos quarenta anos, essas fronteiras tenham permanecido, independentemente das velhas civilizações rurais com que andaram associadas. Aqueles que aspiraram a governar Portugal longamente e mais ou menos em sossego souberam sempre que, além do país que estava com eles, havia outro país que precisavam de ter em conta. Até os republicanos, no fim, procuraram corrigir o seu terrorismo laicista, com António José de Almeida a impor o barrete cardinalício ao núncio papal. E Salazar, ao contrário do general Franco, nunca restaurou a monarquia e o catolicismo como religião de Estado.
Este país e o seu futuro não pertencem ao "sim", nem ao "não". Não entrámos na modernidade no domingo passado. Estamos nela há duzentos anos. O tempo suficiente para percebermos que nunca teremos todos as mesmas opiniões. Tirem portanto as pêras postiças à Afonso Costa, e portem-se como gente grande. (...)