segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Postais de Cabo Verde II- A globalização

A viagem a Cabo Verde permitiu-me conhecer melhor o significado da globalização quando aplicada ao sector do turismo. Então, é assim:
- Compra-se um bilhete na TAP, porque a hora do voo da TACV não é a mais conveniente e, chegado ao balcão do check-in, constata-se que afinal o voo é em codeshare ( TAP e TACV), pelo que poderia ter viajado à hora pretendida, pela TACV, poupando algumas dezenas de euros a quem me pagou a viagem. Primeira constatação: ou as agências de viagens não sabem o que andam a fazer, informando mal os clientes, ou reservam os bilhetes da TACV para os turistas que viajam nos pacotes que elas vendem. Quem viajar por sua conta e risco, que se amanhe!
As próximas surpresas surgem nos episódios seguintes. Chegado ao avião, constata-se que não pertence nem à TAP , nem à TACV, mas sim a uma transportadora checa e que a tripulação, por acaso, é eslovaca e não fala uma palavra de português. As revistas a bordo são escritas em checo e inglês, mas ( vá lá...) têm um artigo bi-lingue ( inglês e checo) interessante sobre as potencialidades turísticas do país de destino: Cabo Verde. Finalmente, na hora da refeição, conclui-se que o serviço de cattering foi fornecido por um restaurante italiano!
Conclusão: um passageiro português compra um bilhete de avião numa companhia aérea portuguesa, para um destino onde a língua oficial é o português, mas não tem direito nem a um suminho, ou a uma água portuguesa, nem a obter informações na sua língua, porque a tripulação só fala inglês e a sua língua materna ( neste caso o checo). Perguntei ( em inglês, claro!) a uma das três atraentes moçoilas, que do alto do seu metro e noventa, distribuíam os tabuleiros com o jantar,se havia algum passageiro checo. Perante a resposta negativa, saída de lábios carnudos implantados 20 centimetros acima da minha cabeça ( acima dos quais ainda se podiam ver dois cristalinos olhos azuis mirando-me como se fosse um extraterrestre, emoldurados por uma bela cabeleira loira), interroguei-me por que razão as informações de bordo tinham sido dadas em inglês e naquela língua, e não em português, mas a única resposta que obtive dos meus botões, foi um envergonhado silêncio.
A história dava pano para mangas se estivéssemos a falar de defesa do consumidor, mas como não é esse o propósito deste Postal de Cabo Verde, limito-me a perguntar-me, na vã esperança de obter uma resposta, se a minha estupefacção perante o que acabo de relatar se deve a ignorância ou a deslumbramento...
No entanto, justiça seja feita, havia um toque português em tudo aquilo: o vinho!