O acordo dos Seis sobre a Coreia do Norte
De acordo com acordo histórico alcançado a nível dos Seis, esta semana, a Coreia do Norte vai encerrar o seu reactor do complexo de Yongbyon, o centro do seu projecto nuclear, e permitir a inspecção por funcionários internacionais.
A Coreia do Norte terá que cumprir o acordo agora assumido desactivando as suas instalações nucleares num prazo de 60 dias, recebendo como compartida 50.000 toneladas de petróleo ou ajuda económica no mesmo valor. Vai receber ainda um milhão de toneladas de petróleo ou seu equivalente quando assumir os próximos passos para desmantelar a sua capacidade nuclear, nomeadamente fornecer um inventário completo do seu plutónio, o material usado para a primeira explosão nuclear norte-coreana em Outubro.
O acordo parte de uma proposta da China que implicava o encerramento, dentro de dois meses, por parte da Coreia do Norte, das infra-estruturas de produção de armas nucleares em troca do fornecimento de ajuda energética e económica. As conversações a seis (duas Coreias, China, Estados Unidos, Japão e Rússia), organizadas pela China, começaram em 2005 com o objectivo de levar a Coreia do Norte a abandonar o seu programa de armamento nuclear. Os esforços diplomáticos não conseguiram evitar que a Coreia do Norte realizasse em Outubro de 2006 o seu primeiro teste atómico.
É dificil ainda estimar se o regime de Kim Jong Il negoceia e concerta, desta vez, de boa-fé mas o comprometimento de 5 países maiores na cena internacional neste cerco e envolvimento a Pyongyang mostra que a diplomacia pode funcionar, conjuntamente, com a força e a ameaça dela. Prova também que o multilateralismo terá assentado arraiais para o lado da Casa Branca, depois de meses de deriva unilateralista. A influência de Condoleezza Rice terá sido decisiva no concerto, o que revela o seu perfil como uma das mulheres importantes deste princípio de milénio e uma hábil diplomata na tradição kissingeriana, de que ela é, provavelmente, uma excelente discipula.
Se há já alguém derrotado por este acordo ele parece ser os neo-conservadores americanos até aqui extremamente influentes junto de George W. Bush. Fukuyama tinha razão quando num artigo luminoso no Washington Post anunciou que o neo-conservadorismo estava morto ou pelo menos em extinção. Seria bom que este pragmatismo fosse levado ao Iraque e à estratégia americana.