segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Postais de Cabo Verde

Motivos profissionais obrigaram-me a uma viagem a Cabo Verde na última semana. Durante a estadia, fui cativado pela extraordinária simpatia dos caboverdianos e pela forma afável como recebem os portugueses e os turistas em geral. Menos agradável, foi ter sentido na pele o frio cortante do vento que atrai, principalmente à ilha do Sal, os amantes do windsurf e kitesurf. Surpreendente e mesmo desagradável foi, porém, ter constatado a herança de laxismo que deixamos como marca de origem e que relato em dois breves episódios
1º Acto- Acabado de aterrar no aeroporto do Mindelo ( chamemos-lhe assim...) apanhei um táxi para a cidade. Assim que arrancámos, o taxista ( José) apressou-se a mostrar-me as instalações do novo aeroporto, que será inaugurado em Março, tendo o cuidado de acrescentar que já deveria ter sido inaugurado em Outubro, mas que atrasos nas obras obrigaram ao atraso de seis meses na inauguração. Sabia, por ter lido numa revista de bordo, que o recém inaugurado aeroporto da Praia também sofrera atrasos de um ano e arrisquei-me a perguntar-lhe as razões desses frequentes atrasos. Com um sorriso de orelha a orelha, o José deu-me resposta pronta: "Sabe, isto aqui em Cabo Verde é sempre sem stress. Foi herança dos portugueses!"
Ao pensar no atraso das obras do Metro que deveriam ter sido concluídas em 1998, mas só este ano estarão prontas, no túnel do Marquês ou no túnel do Rossio, quem poderá contradizer a sentença sábia do José que, vim a saber, até já foi emigrante em Portugal, onde esteve a trabalhar nas obras?
2º Acto- Entro no aeroporto do Sal, atrasado para fazer o check in. Deparo de imediato, na entrada do topo norte, com a indicação de "partidas voos internacionais", mas o meu destino é um voo doméstico. Percorro todo o corredor, mas nenhuma placa indicando a entrada. Dirijo-me ao balcão de informações e pergunto onde é a entrada para os voos domésticos.
" É no outro extremo do aeroporto"- informa-me uma uma simpática voz feminina em corpo com tons de canela. Percorrido o corredor em sentido inverso, volto a encontrar apenas a indicação da partida para voos internacionais. Pergunto ao segurança se é aquela a porta de partida para os voos domésticos e, obtida a confirmação, censuro a falta de indicação.
De novo a resposta vem na ponta da língua:
"Ter informação, tem, mas caiu no Natal e nunca mais ninguém voltou a pô-la lá.."
Espantado com a resposta, só quem não viaja pelas estradas portuguesas ou percorre as ruas deste lindo Portugal. Mas constarngido com a herança que deixámos a este povo não pude deixar de ficar...