O "EXPRESSO " Verde
O "Expresso" decidiu dedicar o mês de Fevereiro ao ambiente. Trata-se de uma iniciativa inédita na comunicação social portuguesa que se saúda, mas peca por tardia e parece vir a reboque do inesperado sucesso do filme de Al Gore "Uma Verdade Inconveniente" ( que recentemente veio a Portugal fazer uma conferência de 50 minutos a troco de 175 mil dólares, pagos por um consórcio de empresas. Fica por saber a razão que impediu a comunicação social de estar presente, mas tenho a impressão que sei a resposta...) .
As duas edições do "Expresso" já publicadas merecem um balanço positivo, pese embora o facto de fazerem múltiplas alusões à necessidade de cumprir Quioto, quando hoje em dia o que está em questão é já a definição das metas a traçar pós Quioto ( a partir de 2012). Todos os cadernos e a Revista "Única" têm variados artigos sobre ambiente e existem muitas caixas com informação aos leitores de grande utilidade. Receio, no entanto, que esta"overdose" de temas sobre o ambiente se esgote no fim do mês e que depois tudo volte à estaca zero. Sei, por experiência própria de quem há 30 anos escreve sobre o assunto, a dificuldade que há em incluir temas sobre o ambiente nos jornais. Pessoalmente, posso dizer que apenas dois ( "O Público" e a "Tribuna de Macau") me franquearam as portas para escrever sobre o assunto livremente. Em relação à Tribuna, lembro o grande destaque que deu às reportagens que fiz durante a Cimeira do Rio em 92. Quanto ao "Público", é o jornal português que de forma mais sistemática aborda estas temáticas, embora nos últimos tempos se venha notando uma subalternização do tema em relação ao passado.
Receio que, em relação ao "Expresso", a abordagem da temática se esvazie no final do mês e, se assim for, perder-se-á muito do efeito que o jornal parece querer obter com a iniciativa. Sempre fui contra as "overdoses" informativas, muito frequentes a propósito dos "Dias Internacionais". No dia Internacional do Deficiente, por exemplo, todos os media fazem reportagens e dão informação abundante sobre o assunto, mas ao longo do ano raras vezes escrevem ou falam sobre a deficiência e as temáticas colaterais, como as barreiras urbanísticas- para citar apenas um exemplo.
Os problemas ambientais são demasiado sérios e têm que estar permanentemente na ordem do dia. Só devidamente informados, os cidadãos tomarão consciência das consequências das alterações climáticas e se sensibilizarão para a necessidade de alterar os seus hábitos quotidianos. O filme de Al Gore - e as sucessivas conferências que vem dando por todo o mundo- contribuiu para alertar muitas pessoas que até há pouco tempo encaravam o assunto como se se tratasse de ficção científica. Compete à comunicação social alimentar esta chama. Sem alarmismos nem catastrofismos, mas de uma forma ponderada que desperte em cada cidadão do mundo uma consciência cívica em prol da defesa do Planeta.