terça-feira, 3 de abril de 2007

A campanha presidencial francesa

[...] REVALORISATION du travail, maîtrise de l'immigration et défense de l'identité nationale. À trois se- maines du premier tour, Nicolas Sarkozy a exposé les « grandes questions » de la présidentielle. Pendant une demi-heure, l'ex-numéro deux du gouvernement a défendu les dossiers dont il avait la responsabilité Place Beauvau. Les questions de « sécurité et d'immigration » sont un « thème majeur » de la campagne, a-t-il martelé.
Le retour du débat sur la sécurité est-il la marque de son échec ? L'ex-ministre de l'Intérieur s'est inscrit en faux. « C'est une erreur de dire que toute la campagne 2002 s'est jouée sur l'insécurité et je pense que c'était une erreur de dire que la sécurité et l'immigration n'étaient plus dans le débat. Si je pensais que tout était réglé, pourquoi serais-je candidat ? », a-t-il répondu lors du Grand jury RTL-Le Figaro-LCI.
Interrogé sur les violences de la gare du Nord, il a répété qu'il voulait instaurer des peines planchers pour les multirécidivistes et punir les mineurs délinquants comme des majeurs. Il a dénoncé avec virulence la décision du conseil régional (PS) d'Île-de-France d'accorder la gratuité des transports aux RMIstes. « Je m'oppose à cette République de l'assistanat, à cette République de la fraude. Je veux faire exactement le contraire. » Car il s'est adressé à la France du « non », à la France qui ne vote plus ou vote pour les extrêmes : « Je veux parler à cette France. Je l'ai comprise. » Ira-t-il en banlieue d'ici au premier tour ? Sarkozy élude : « J'ai choisi comme porte-parole Rachida Dati. »
No Le Figaro

Não tenho, nesta campanha presidencial francesa um candidato preferido. Incomodam-me como europeu as questões da desigualdade e do ostracismo, criadas por uma sociedade liberal que não encontrou ainda os mecanismos sociais de reequilíbrio. Incomodam-me também as questões de insegurança colectiva, as explosões de vandalismo gratuito, e a perda de identidade nacional pela diluição das fronteiras.
Oscilo entre estes duas dimensões da cidadania. Mas acho que os políticos europeus têm que perceber que o mundo em que cresceram depois da Segunda Guerra Mundial já não é o mesmo. É menos justo mas é menos seguro. E essa insegurança é causada não propriamente por ameaças externas [nenhum país europeu é ameaçado por um estado vizinho distruptor] mas por ameaças internas. E nessas tem importância decisiva a integração das comunidades imigrantes, curdas, magrebes, africanas, do Leste europeu.
Só se pode integrar quem quer ser integrado; só se pode criar condições para se tornar um bom francês, alemão ou suiço quem se quer identificar com a comunidade a que se acolhe e com os valores que a estruturam. Não se pode querer ser europeu e praticar a poligamia; não se pode ser europeu e defender a defenestração das mulheres porque são inferiores e escravas; não se pode querer usar o simbolo de uma identidade religiosa particular como arma de arremesso contra a cultura de acolhimento.
Não faz sentido, não nos podemos dar a esse luxo.
Durante as quatro últimas décadas a Europa foi um espaço aberto a todos os que a demandaram por razões económicas, políticas e sociais. Só não ali arribou quem não quiz. O mundo mudou desde então e como mostraram os atentados de Madrid e de Londres o problema do terrorismo está dentro da Europa, é um problema europeu e tem que ser resolvido pelos europeus. Os jovens que estiveram envolvidos nesses atentados não eram quaisquer deles emigrantes pobres, desfavorecidos, exorcizados. Eram jovens da classe média, enraizados na sua comunidade, com razoáveis empregos. Serviram, objectivamente, estratégias de subversão das sociedades europeias, a soldo de forças estrangeiras. Os seus propósitos são um problema de segurança nacional, não de disfunção social e têm que ser tratados como tal. Os desacatos da gare do Norte pelo que vi na televisão foram problemas de polícia e devem ser tratados como tal. São delinquência pura e simples que reclamam o sentido de responsabilidade do estado de direito democrático.
Tenho, nos últimos meses, chamado a atenção que este crescendo de violência gratuita pode gerar fenómenos de reacção impulsiva, ao longo de linhas rácicas, como as que aconteceram nos últimos dias da República de Weimar e levaram à eclosão do nazismo. É preciso lembrar e perceber que o nazismo triunfou não porque um bando de energúmenos conspirou contra o estado democrático, mas porque soube também ir de encontro aos medos, às preocupações de insegurança do conjunto da população alemã que lhe deu a vitória em eleições livres e generalizadas. Sem o apoio dos alemães vulgares, comuns, nunca o nazismo teria triunfado. Por isso as simplificações são péssimas e para além disso são irresponsáveis. Nem todas as reacções sociais são positivas, nem podem ser lidas como expressão de revolta de comunidades que se sentem desajustadas socialmente. Em democracia não tem razão quem grita mais alto, quem incendeia carros ou quebra montras. A democracia tem outros mecanismos para que o direito à desobediência se expresse. Confundi-lo é abrir a porta aos hipócritas, aos bandidos.