Um Portugal que é preciso relembrar aos mais esquecidos
[...] E Portugal era grande, assente sobre um povo escravo e analfabeto, trémulo e rapado. Sem ofensa. Um Portugal construído sobre pilares de medo em que se temia tudo, o padre que arrecadava confissões e adultérios, o marido que batia na mulher, o vizinho do lado que era pide, o colega de escola que batia nos outros e carteava um trunfo de pai-ministro, o polícia que usava a farda para comprar fiado. E como todos eram muito pobres, comprava-se açúcar amarelo a prestações, e Omo, e marmelada, e iogurte, e bolachas torradas, luxos. A taberna não fiava. [...]