Cursos, recursos e concursos
O “Expresso” recupera esta semana o tema da licenciatura de Sócrates, puxando-o para manchete. Ao longo de duas páginas, o semanário que se especializou em ofertas de DVD ( iniciativa que, a par do mês do Ambiente, acabou por me reconciliar com o semanário depois de dois anos de abstinência), divulga novos dados e coloca um conjunto de questões pertinentes.
Devo confessar que me estou marimbando em saber se Sócrates é engenheiro ou bacharel. Em primeiro lugar, porque tenho a certeza que nunca se saberá a verdade sobre o assunto. Os contornos nebulosos de toda esta história dificilmente se dissiparão, até porque o período conturbado que a Independente vive, nada ajudará a clarificar. A suspeita permanecerá para sempre, por muito que o PM se esforce em provar a credibilidade de uma licenciatura concluída com quatro cadeiras ministradas pelo mesmo professor. Faz-me lembrar os tempos de professor único da escola primária, mas enfim...
A segunda razão, é porque não acredito que Sócrates alguma vez vá exercer a sua profissão. A única obra de engenharia que porventura terá feito na sua vida terá sido a construção da sua casa de sonho com peças da Lego. Mas isso também eu fiz e não sou engenheiro, portanto...
O que realmente me preocupa em toda esta história, é o facto de abalar, uma vez mais, a credibilidade do ensino superior privado. E isso não é justo, pois há universidades privadas de grande qualidade que não devem ser confundidas com “botecos de amigalhaços” que um dia se juntam e decidem fazer uma Universidade. Poderia ter-lhes dado para abrir um restaurante, uma discoteca ou abrir um centro comercial, mas não ... foram pela via mais fácil e lucrativa.
É urgente restituir a credibilidade ao ensino superior, acabando com os “cursos bolo-rei”. Conheço situações que são um atentado à inteligência de qualquer mortal. É o caso, por exemplo, de uma jovem ( hoje uma respeitável senhora com cargo jurídico de relevo numa importante autarquia ) que andou cinco anos na Faculdade de Direito, sem conseguir concluir o segundo ano, acabando por se inscrever numa universidade privada. Em menos de dois anos fez 13 cadeiras e concluiu o curso. Milagres não existem, mas licenciaturas “adhoc” parecem ser uma matéria recorrente em Portugal.
Estas situações só me preocupam, porque ao contrário do que acontece com Sócrates e com a jovem senhora que referi ( que nunca exercerão a sua profissão, porque escolheram a política como forma de vida e a sua verdadeira licenciatura foi-lhes conferida pela adesão aos partidos a que pertencem), muitos destes licenciados “ fast food” exercem a sua profissão e, um destes dias, posso ter que recorrer aos seus serviços.
Por isso, quando precisar de um médico, um engenheiro, um advogado, ou um arquitecto, o primeiro pedido que lhes vou fazer é este: “mostre-me lá o seu diploma de curso, para eu saber onde se licenciou...”
É que pelo ritmo que as coisas levam qualquer dia aparece aí um concurso de televisão a oferecer diplomas, podem crer!