Somos invejosos?
Dizia o Carlos Oliveira:
[...] Não há volta a dar-lhe. Somos invejosos do sucesso alheio e quando vemos alguém destacar-se, logo tratamos de urdir uma teia de boatos e insinuações pérfidas à sua volta. Num país assim, é difícil manter o optimismo colectivo durante muito tempo.
Provavelmente essa dimensão rasteira faz parte da nossa identidade imemorial. Acho que temos voltar ao Eduardo Lourenço, o do Labirinto da Saudade não o de agora que me parece repassado e vulgar para perceber essa dimensão de povo atrazado. Mas a inveja dos outros [os que têm sucesso e a que lhes é inventado o sucesso] é também reflexo da falta de sentido de responsabilidade, daquele doce sabor de gaiatismo que marca o ser português. Quando o tal slogan rezava "os outros que paguem a crise" não estava só a referir-se aos "ricos" mas mais genericamente aos outros i.e,, àqueles que não eu. Nesse chapéu cabem as próximas gerações, o vizinho do lado. Essa "irresponsabilidade" rasteira que mobiliza o português a torpedear o fisco, a aldrabar o polícia com a autoria da manobra perigosa, ou a ser fresco com o empregado do restaurante é marca - defendo eu há muito - da nossa costela árabe, malgrebe. Mas aí como sabemos não há luxos democráticos; aí vingam os regimes autoritários e paternalísticos de que os portugueses andam famintos [sem o concederem]. Por muito que custe aos homens de esquerda ou à pequena minoria melhor educada. All of us among them.