terça-feira, 21 de agosto de 2007

Miolos 2- Espigas 2 (ao intervalo)

Em 1961, Rachel Carlson escreveu o livro Primavera Silenciosa onde denunciava os efeitos nefastos de um pesticida:o DDT. Durante anos ninguém a levou a sério, mas hoje todos sabemos que acabou por ser proscrito da agricultura, porque as questões que ela levantava acerca dos efeitos devastadores do DDT se viriam a confirmar.
Mais recentemente, vários problemas se têm colocado em torno das questões alimentares. As vacas loucas entraram para as primeiras páginas dos jornais no início dos anos 80, mas não faltou gente com “peso” na opinião pública a minimizar a questão, garantindo que a doença em nada afectava o ser humano.
Uma década mais tarde, lá se foram as “iscas com elas” e outras saborosas miudezas . O próprio bife de vaca começou a ser olhado de soslaio, enquanto um Ministro da Agricultura português comia miolos de vaca em Bruxelas, diante das câmaras de televisão, na tentativa de ridicularizar os detractores da carne de vaca. Inicialmente, os miolos ganharam vantagem, mas quando se vieram a confirmar os receios desde sempre levantados, foi uma “espiga” e restabeleceu-se a igualdade.
Eu próprio tive que exibir relatórios da OMS para evitar o enxovalho que algumas eminências pardas me preparavam diante de câmaras de TV. Ainda hoje me arrependo de os ter exibido demasiado cedo....
Mais tarde, assistimos à desvalorização da gripe das galinhas em Hong Kong, aos problemas das dioxinas na carne dos frangos belgas, à utilização de dióxido de carbono defeituoso em produtos da Coca Cola ou à listeria em França. Em todos os caos , mais tarde ou mais cedo, veio a confirmar-se que os “velhos do Restelo” afinal tinham razão quando lançavam os seus alertas.
Chegou enfim a questão dos OGM.
Apesar de protegidos dos holofotes mediáticos ( a imprensa portuguesa é pouco dada a analisar assuntos que considere esotéricos) tiveram -por ínvios caminhos- direito ao seu momento de glória depois do caso de Silves.
O episódio das vacas loucas teve ontem um “remake” quando o actual Ministro da agricultura saiu da Herdade da Lameira empunhando, ufano, uma espiga de milho. Enquanto via as notícias, tive por momentos a esperança de ver o Ministro dar uma “bicada” na espiga, mas Jaime Silva usou os miolos e retraiu-se. Logo de seguida, porém, revelou menos tacto quando insinuou que o BE poderia ser conivente com o assalto de Silves. Declarações que foram uma espiga para António Costa e Sócrates .
Conclusão: restabelecida a igualdade ( 2-2)
Estamos ainda no intervalo e receio bem que as espigas de milho ganhem aos miolos de vaca, dados os indícios visíveis de desorganização das mioleiras que não se cansam de fazer remates perigosos contra a sua própria baliza.
Como já referi, não há certezas irrefutáveis quanto às consequências dos OGM, mas os factos que adiantei noutro post parecem-me elucidativos. Vejamos então quais os perigos que se temem poder advir do consumo de OGM ( para além dos que já referi anteriormente):
Genes animais ou humanos introduzidos em plantas e animais podem danificar o sistema imunitário ou causar alergias.
Genes resistentes a antibióticos introduzidos na cadeia alimentar poderão transferir-se para o corpo humano
Alguns tipos de herbicidas usados nas culturas de OGM matam não só ervas daninhas, mas também animais e insectos que permitem o controlo de diversas pragas , fazendo temer o aparecimento de novos insectos resistentes ao veneno,
Plantas geneticamente modificadas podem cruzar-se, através do pólen, com espécies nativas para produzir super ervas daninhas indestrutíveis por herbicidas ( já foram identificadas algumas na Austrália)
A engenharia alimentar esconde-se por detrás de expressões como “gorduras saudáveis” e um variado número de substâncias , entre as quais se podem encontrar algumas a que somos alérgicos, que não podemos identificar, colocando em risco a nossa saúde e, eventualmente, a saúde pública.
Termino esta polémica em torno dos transgénicos como comecei há dias: nada justifica que um grupo de invasores destrua o ganha pão de quem está devidamente autorizado a praticar uma determinada actividade.
Como escreve Fernanda Câncio no 5 dias ( um dos raros blogues que manteve a lucidez em torno deste assunto) não podemos tolerar este tipo de violência, sob pena de um destes dias um grupo de militantes anti-aborto pegar fogo a uma clínica onde ele se pratique. Ou então, pior ainda, corremos o risco de Alberto João Jardim, na sua cruzada purificadora “contra o deboche dos casamentos gay” invadir o Contenente. “Abrenúncio, t’arrenego, Satanás!