Quando o jornalismo só vê um lado das notícias
O generalizado acervo de dislates que grassa na blogoesfera e em alguma imprensa portuguesa acerca da acção levada a cabo pela associação “Verde Eufémia”, obriga-me a voltar ao assunto mais cedo do que desejava.
Eu próprio me insurgi aqui contra a acção que apelidei - emocional mas incorrectamente- de “Terrorismo Verde” e me interroguei acerca de eventuais subsídios atribuídos pelo Estado àquela associação.
Na primeira página do DN de hoje leio “ Governo deu apoio a grupo que atacou milho”. A minha primeira reacção foi pensar que as minhas suspeitas eram fundadas e que o Governo efectivamente apoiara a “Verde Eufémia”.
Compro o jornal e que leio? Que o Governo apoiara a Ecotopia 2007. Constato desde logo que são duas coisas diferentes, mas concedo que na azáfama do fecho de edição se tenha instalado espaço para o erro. Mais surpreso fico quando leio que afinal o apoio do Governo se limitara a uma menção, no Portal do Instituto Português da Juventude, à realização do evento.
E agora, à semelhança dos que me criticaram- justamente- por ter acusado a “Verde Eufémia” de fazer Terrorismo Verde, muitos certamente me irão crucificar pelo facto de achar que o IPJ fez bem em divulgar a Ecotopia 2007 ( não existiram apoios financeiros nem de qualquer outra natureza).
E acho bem que o IPJ tenha divulgado a iniciativa, porque se trata de um encontro de activistas antiglobalização que periodicamente se reúnem, em locais estratégicos, para debaterem e divulgarem questões ambientais que nos deviam preocupar a todos.
Não nutro especial simpatia por este tipo de eventos que em nada servem para credibilizar as causas ecologistas ( pelo contrário, actos de vandalismo como o perpetrado em Silves só ajudam a denegrir). Alimento, porém, uma visceral antipatia pelo jornalismo obnubilado pela vertigem das audiências e das tiragens. Principalmente, porque contribui para deformar a opinião pública e para que a blogosfera se transforme numa coutada de reacções acéfalas. Colocado entre dois males, não hesitarei em manifestar a minha preferência pelo primeiro. Porque assenta em causas que deveriam ser amplamente discutidas - não varridas para debaixo do tapete.
Escrevi – e volto a escrever- que a herdade de milho transgénico vandalizada em Silves não devia existir, porque os OGM ( Organismos Geneticamente Modificados) são um problema de saúde pública que anda a ser discutido em surdina nos meandros de Governos deslumbrados com as virtualidades das economias de mercado. E é, por isso mesmo, que pela enésima vez vou escrever sobre esse embuste alimentar que está a engordar os cofres do “Tio Sam”, mas a pôr em risco a saúde de milhões de pessoas no mundo. Mais logo, ou amanhã, neste local e depois da visita do Ministro Jaime Silva à herdade vandalizada.
Entretanto fico à espera ( sentado...) que o DN publique o lado B da notícia. E até proponho um título:
“ O ataque à herdade de Silves, visto do outro lado”.