quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Um mundo sem religiões

(...) qualquer destes livros suscita uma pergunta fatal: como tanta "evidência", "ciência" e "aprendizagem" sobre o homem, como é que há gente que ainda acredita em Deus? A religião não pode ser apenas um equívoco de primários. A resposta de Dawkins e companhia seria provavelmente a de que as pessoas optam muitas vezes por uma vida de engano e submissão, além de que o género humano não suporta nunca demasiada realidade.
Mas a resposta mais segura é de que as pessoas continuam a acreditar em Deus porque sentem uma irreprimível necessidade de acreditar em Deus. Ao pé dessa necessidade, os domínios da "prova" e da "ciência" tornam-se falíveis, não dizem nada sobre o que somos. Certamente que a fé não chega para fundar uma religião séria. Certamente que as pessoas acreditam em Deus de forma diversa e há quem não hesite em matar para atestar a sua crença. Mas esse impulso natural das pessoas para o fideísmo, no limite para a religião, é indomável. Não se ensina uma pessoa a deixar de acreditar em Deus, como se ensinam as leis da física ou o sistema solar. A religião não é uma ideologia.
É por isso que a ideia de um mundo sem religião é uma utopia absurda. Poderíamos viver num mundo sem religião? Viveríamos melhor num mundo sem religião? Não sei, mas duvido. Com mais ou menos ciência, o instinto religioso faz parte da nossa luta diária pela sobrevivência num mundo adverso e sem sentido (...)
Pedro Lomba no DN,
aqui.