quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A Economist fala no Brasil pelas razões habituais

Na sua última edição a revista britânica The Economist reflecte sobre as condições do Brasil de se tornar uma superpotência no sector de energia.
"Graças, em grande parte, ao etanol de cana-de-açúcar, o Brasil pretende ser uma superpotência em energia. Mas será que (o país) consegue manter suas próprias luzes acesas?", pergunta a revista, numa reportagem intitulada "Escassez em meio ao excesso".
Segundo The Economist, em sua recente viagem por cinco países da América Latina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou reforçar a imagem do Brasil como superpotência em energia. "Abençoado pelo sol, banhado por grandes rios e perto da auto-suficiência em petróleo, o Brasil tem realmente um enorme potencial em energia. Mas por diversas razões, que vão da letargia do governo ao lobby dos ambientalistas, (o país) corre um grande risco de escassez de energia em casa", diz o texto. A revista cita dados do Instituto Acende Brasil, segundo o qual há entre 28% e 32% de risco de apagões até 2012 caso a economia cresça 4,8% ao ano - previsão que, afirma o texto, é considerada alarmista pelo governo brasileiro.
Mas, conforme a reportagem, mesmo com crescimento econômico menor ainda há risco de falta de energia. A revista afirma que, actualmente, quatro quintos da eletricidade do Brasil vêm de barragens hidroeléctricas. Mas, em tempos de grande procura ou baixo índice de chuvas, há a necessidade de o complementar com outras fontes, principalmente gás natural.
"Cerca de metade do gás natural consumido no Brasil vem da Bolívia. As relações entre os dois países têm estado tensas desde que a Bolívia decretou a nacionalização das operações da Petrobras no território boliviano, no ano passado", afirma o texto.
De acordo com o The Economist, "as esperanças do governo estão em dois grandes projectos, e ambos têm seus críticos", referindo-se à construção de uma terceira central nuclear em Angra dos Reis e de duas hidroeléctricas no Rio Madeira, em Rondônia.
A conclusão das estações no rio Madeira, diz a revista, está prevista para 2012. Caso esse prazo não seja cumprido, porém, haverá a necessidade de um "plano B", com fontes alternativas de energia, afirma o texto. "Mas de onde?", pergunta a revista. Segundo a revista, a Bolívia seria uma opção, mas o país também poderá enfrentar dificuldades para incrementar a sua produção de gás e está comprometido em aumentar seu fornecimento para a Argentina, antes do Brasil.
"Além disso, os bolivianos estão furiosos com as estações no rio Madeira", diz o texto.
"Outra possibilidade seria gerar eletricidade a partir de cana-de-açúcar, em conjunto com a produção de etanol, mas a tecnologia para isso ainda é muito recente."
A revista afirma que, de acordo com a consultora McKinsey, se a área de cana-de-açúcar fosse duplicada, houvesse maior aplicação de insumos e maior mecanização das lavouras, a produção de etanol do Brasil aumentaria dos actuais 17 bilhões de litros por ano para 160 bilhões de litros por ano em 2020.
"Mas aumentar a produção de etanol tem as suas desvantagens. Apesar de muito pouco da cana-de-açúcar do Brasil ser produzida na região da Amazônia, expandir as lavouras poderia exercer mais pressão sobre a floresta, ao empurrar a produção pecuária e de soja para o seu interior", diz a revista.
A Economist afirma que o Brasil enfrenta dificuldades para conciliar desenvolvimento e meio ambiente. E, segundo a revista, seria irónico que a "oposição verde" às estações signifique que o Brasil acabe a utilizar mais petróleo para "manter as luzes acesas".

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O fundamentalismo ecologista como qualquer um produz efeitos inversos à ideologia que propagandeia. E se a questão do desenvolvimento sustentado é estrutural a qualquer dos três países que largou o carro-vassoura dos países não-desenvolvidos para se tornar - cada vez mais - uma nação desenvolvida, o problema é que para quem desenha as políticas públicas há que conciliar os desejos ecológicos de uma mão-cheia de ONGs ambientalistas e as ambições de progresso e bem-estar de milhões de votantes. E estes é que correm com os governos não as primeiras.